sexta-feira, 29 de outubro de 2010

posso contar uma história?

“O menino que tinha coisas na cachola”

Tarde chuvosa de domingo. Céu escuro, nuvens densas, ventania, trovoada… A criançada assustada corre e se agarra na barra da saia da mãe. Tapa os ouvidos, fecha os olhos. De repente, o mais novo pergunta. “Mãe, o que é trovão?” “É São Pedro arrumando a casa, arrastando os móveis”. “Não vai cair na nossa cabeça?” A mãe ri da ingenuidade do filho e responde, “não cai, fica tranqüilo”. “E de onde a chuva vem?” “A chuva é a água que São Pedro usa para lavar a cozinha da sua casa”, responde a mãe. “A cozinha dele deve ser grande, né mãe?” Menino inteligente. Sabe fazer perguntas. Crianças não têm medo de perguntar, não têm vergonha, nem pudor. É por isso que aprendem tudo com tanta facilidade. Curiosidade. Depois que cresce, fica cada vez mais difícil perguntar. Na escola, a criança pergunta e a professora responde: “Não estava com atenção, não menino?” Ou então, “Ainda não é hora de falar sobre esse assunto. Mais para frente vocês aprenderão sobre isso”. E assim, a curiosidade do menino vai se tornando embotada, ele guarda as coisas na caixa e deixa tudo bem fechado. Era um menino que tinha coisas na cachola. Vivia imaginando, perguntando, sonhando acordado. Até que alguém o repreendia: “Ta ficando maluco, menino? Falando sozinho?” E assim ele encaixotou tudo. Não sonha mais. Aprendeu a desenhar e a pintar na escola. “Onde já se viu sapo azul? É verde”. E ele que havia imaginado um sapo intoxicado com suco de framboesa... Bem que podia ser azul... Mas voltemos à tarde chuvosa. As crianças entediadas. A mãe tem uma idéia. Vou fazer bolinho de chuva. “Oba!” As crianças querem ajudar, se juntam na cozinha, ao redor do fogão. A mãe mistura os ovos, a farinha, o leite, o açúcar e o fermento. Aquece o óleo na frigideira e, com a colher, pega um punhado de massa e despeja no óleo quente. Parece mágica, em instantes se tornam bolinhas douradas. Depois, a mãe passa no açúcar e na canela. Põe a mesa, passa o café e todos saboreiam os bolinhos regados à prosa. “Mãe, sabia que você é a mulher maravilha? Porque você sabe tudo: sabe fazer bolinho de chuva, sabe dormir sozinha, sabe escovar os dentes...” Fase boa, em que somos os heróis de nossos filhos. Só tem uma coisa mais gostosa do que bolinho de chuva, de mãe, em tarde chuvosa: é quando falta energia elétrica à noite e o pai está em casa. É uma festa. Ou melhor, um festival. O pai acende as velas e a família faz concurso de sombras. Todos tentando adivinhar. E a figura do pai, ali presente, afasta o medo da escuridão. Nem sentem falta da TV. Quando volta a luz, as crianças fazem coro: “Ahhhh... Que pena, estava tão divertido...” Bastava continuar a brincadeira com a luz apagada, mas não tem graça. O pai, cansado, tem muita coisa para fazer. Tomar um banho, jantar, ver jornal, descansar. E as crianças voltam a brincar sozinhas. Há muitas histórias para contar, de um tempo em que não era preciso muita coisa para ser feliz... E esse tempo pode ser o hoje, o ontem, ou o amanhã, porque somos nós que escrevemos nossa história.

"Patrícia Machado Domingues Cassiano"

segundo as previsões vamos ter um fim de semana com muita chuva e vento, então lembrei desta história para partilhar com quem adora histórias como eu!!!

Aproveitem estes 3 diazinhos!

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