
Tinha 11 anos, não tinha consciência do que se passava no país e no mundo, não sabia o que era um regime opressor, não sabia o que era uma ditadura, tinha liberdade para brincar na rua, saltar à corda e ao elástico e isso bastava-me...
Lembro-me de a minha mãe ficar aflita porque o meu pai saiu para trabalhar e era melhor ficar tudo em casa a aguardar os acontecimentos, ouvia-se atentamente as noticias na rádio e na televisão, lá em casa murmurava-se o medo de uma guerra civil...tantas palavras que ouvia pela primeira vez...no entanto o medo rapidamente desapareceu e o entusiasmo foi crescendo, as imagens eram fortes e marcou-me a multidão que gritava -
" O povo está com o MFA, o povo está com o MFA" - estão a libertar os presos políticos, acabou a PIDE...viva a Liberdade! Tudo aquilo me parecia bom sem saber explicar porquê...
Mas afinal onde estava eu no dia 25 de Abril de 1974?
Estava deitada numa cama, com papeira...sentia-me mal! O maior susto até então, quando olhei para uma cara que não parecia a minha de inchada e transfigurada...e para cúmulo, outro murmúrio que se ouvia e ecoava na minha cabeça
"a nossa ninita já é mulherzinha!" - péssima maneira de ser mulher...inchada, feia... chorei! Logo eu que queria ser criança para sempre, e quando uns meses antes a minha mãezinha me explicou essas coisas de ser "mulherzinha" disse resoluta que não queria nada disso...
Revolução dos Cravos Vermelhos (até a cor dos cravos? parecia de propósito!!!) A minha revolução, inesquecível marco na minha vida, verdadeira revolução na minha cabeça!
Todos gritavam Liberdade...por uns tempos pensei que tinha perdido a minha...